domingo, 5 de agosto de 2012

Experiência pedagógica em Portugal inspirada em Dulcinéia Catadora

Não conheço Paula Sande pessoalmente, mas foi com grande admiração que me inteirei do projeto por ela  desenvolvido com alunos do sétimo ano, no ano letivo 2011-2012, na Escola de Cunha Rivara, Arraiolos, em Portugal.
Paula Sande é colaboradora do PNET.  Contos de  Carlos Pessoa Rosa, O Poeta Azul e Lobisomem, publicados na sessão de literatura popular do PNET,  levaram Paula a conhecer o trabalho do coletivo Dulcinéia Catadora. Inspirada, a professora de Português lançou-se a um belo projeto em sala de aula, aplicando o conceito artístico que norteia nossas atividades.

 O trabalho  resultou na edição de dois livros, um contendo  poesias de poetas populares do distrito de Évora, e outro reunindo poemas escritos pelos alunos numa oficina, tendo como tema  paisagens literárias do Alentejo.



E a surpresa:  os alunos montaram os livros com orientação do professor de educação visual da turma, Bernardino Mira. Conforme explica a professora Paula Sande, na confecção dos livros, adotou-se  "a filosofia e a estética de edição do projeto editorial brasileiro Dulcinéia Catadora. Depois de os editores nos terem autorizado a fazer os nossos livros à sua maneira – em papel reciclado e com capas de cartão pintadas à mão – os alunos fizeram estudos para as capas e no final do segundo período pintaram-nas nas aulas de Educação Visual".
 A leitura de outros poetas, oficinas de criação e o exercício de  olhar a paisagem  levaram os alunos a um mergulho, buscando dentro de si palavras trabalhadas em poemas, como este de José Matos:
           
               Pedras eu encontrei
               E flores eu cheirei
               Árvores eu vi
               E um arco-íris eu senti
               Muitas lágrimas eu derramei
               E o meu corpo eu libertei
                      
"Este conjunto de atividades, de que resultou a edição de dois livros, aqui  publicados, insere-se coerentemente num trabalho que venho desenvolvendo nesta escola de há vários anos até agora, na qualidade de membro do IELT - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, e que visa não só dar grande visibilidade à noção de cultura tradicional e popular como às coisas da literatura junto da comunidade educativa, como também contribuir para o desenvolvimento da cultura de escola como cultura dinâmica, dentro e fora do espaço escolar."
Essa linda experiência conduzida por Paula Sande nos faz lembrar de um trabalho semelhante, realizado em 2008 em São Paulo e coordenado pela professora Maria Lúcia Araújo, do Colégio Santo Agostinho, com quatro turmas de adolescentes de 15 e 16 anos e com organização de Teruko Oda, em que os alunos criaram haicais belíssimos que compuseram dois títulos, Tarde de Outono e Ventos de Abril.
Sempre bom  ver a ideia de livros com capas de papelão pulverizando, espalhando fagulhas criativas por todo lugar, cada vez mais longe.