Tatiana Belinky vive em São Paulo, mora em uma rua tranqüila. Ao chegar, toco a campainha. Pelo interfone, ela atende. Abre o portão. Manda-me entrar.
Ansiedade. Ando em direção à porta de entrada daquela casa enquanto me vêm memórias de infância. Dá licença, espiei: conhecer Tatiana, aquela autora que com suas histórias e adaptações povoara a nossa mente de personagens e aventuras, foi algo inesperado para mim. Entrei como uma garotinha de dez anos, meio encolhida.
A vovó Tati é querida por todos, adultos, crianças e gatos. É poeta, tradutora e dramaturga; a maior parte de sua obra é infanto-juvenil. Desde 1985, quando começou a escrever, não parou mais, e atualmente, aos 90 anos, reúne mais de cem títulos. E sua imaginação fervilha. Acomodada em sua poltrona na sala de estar, ladeada por uma estante e um apoio onde pode escrever, Tatiana não pára. Conversa animadamente com aqueles que a procuram, lê escritos seus recentes, divertindo-se com sua irreverência. Não gosta de perguntas tolas, para as quais já se têm respostas. Estas, para ela, são desperguntas. E para uma despergunta, nada melhor que uma desresposta.
Assim, brincando com as palavras, ela passa a tarde, driblando a gramática e os incômodos da idade, inventando vocábulos, rindo muito, questionando tudo, desde pequenos gestos humanos até os ensinamentos da Bíblia: para quem a gula não é pecado, porque não faz mal a ninguém, apressa-se a oferecer um bombom dos que mais gosta, com nozes, ou um vinho do porto. E brinda à alegria de pensar e criar, porque a vida, esta passa mesmo, mas a criação fica!
Dia 18 faremos uma homenagem a Tatiana, na programação de Dulcinéia Catadora na Casa das rosas. Ela nos presenteou com dois contos que comporão um livro de histórias para desenhar. Estrelíssima, sem dúvida, é Tatiana.